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domingo, 30 de outubro de 2011

Modern Sounds In Country And Western Music | Ray Charles (1962)



Depois da fama que ganhou com sua fusão de blues com gospel e jazz em trabalhos anteriores, Ray Charles decidiu experimentar com a música country. Quando anunciou sua ideia aos colegas e executivos da gravadora com a qual tinha contrato - em pleno período de segregação racial nos Estados Unidos - recebeu uma enxurrada de comentários negativos. Para ele, o conceito de um disco calcado na música country era muito mais um teste do respeito e da confiança que sua gravadora tinha nele que um teste de tolerância entre ouvintes de country e rythm and blues de raças distintas.

Apesar de todas as questões raciais e sociais do country (música de brancos) e do R&B (música de negros) na época, Ray Charles não concordava com as ideias de "discos de raças" e outros gêneros, incluindo o pop e o country, como essencialmente diferentes. Em uma entrevista para a revista Rolling Stone, falou das semelhanças entre o blues e o country:

          "As letras de música country são bem parecidas com blues, você vê, bem pra baixo. Eles não estão tão bem vestidos, e as pessoas são bem honestas e dizem 'Olha, benzinho, senti sua falta, então eu saí e enchi a cara num bar'. Assim é que se diz. Enquanto no Tin Pan Alley dirão 'Oh, senti sua falta, querida, então fui a um restaurante e pedi jantar para um'. Está mais arrumado agora, percebe? Mas músicas country e o blues são assim".

O resultado disso tudo é Modern Sounds In Country And Western Music, um álbum sobre coração partido, perda, e cheio de baladas, que é considerado até hoje o melhor disco de estúdio de Ray Charles.


O livro diz que:
Nenhum disco antes de Modern Sounds... - e muito poucos, depois - misturou soul e sentimentalismo de forma tão eficiente. Nota-se a maneira como a voz sofrida de Charles rebate o coro tradicional de "I Can't Stop Loving You", de Gibson, lançada com relutância em single. Charles fez o disco contra a vontade da gravadora, pois queria que o álbum fosse tratado como um trabalho coeso, mas o single acabou vendendo um milhão de cópias. A dor que transparece em sua voz é irrestrita na perene "Born To Lose", mas o bom de Charles é que ele não explora isso à exaustão. Quase sussurra o tempo inteiro em "I Love You So Much It Hurts", de Floyd Tillman, mas trata "Just A Little Lovin'", de Eddy Arnold, como um flerte casual, com uma afinadíssima seção rítmica acrescentando um certo atrevimento ao que era, na gravação de Arnold, pouco mais do que uma piscadela para alguém do outro lado da pista de dança.




Concluindo
Como imaginar que um encontro entre a música country e o soul poderia dar certo? Só um gênio seria capaz de algo assim. Preciso dizer de novo que Ray Charles é um gênio?

O que tinha tudo pra ser a pura dor-de-cotovelo (de certa forma é, nos temas das canções) é um disco lindo, delicioso de ouvir, excelente do começo ao fim. As baladas country no soul de Ray Charles tocam fundo no coração, mas não de uma maneira que te faça chorar pelo amor perdido, muito pelo contrário.

O curioso é que talvez eu não gostasse dessas canções se as escutasse na sua "forma original", digamos assim. Quem acompanha o blog já deve ter notado que eu e o country não temos uma relação muito boa. Mas na voz de Ray Charles, tudo fica mais bonito. "I Love You So Much It Hurts" é tão linda que, como o próprio título diz, chega a doer. "Careless Love" é uma declaração de amor e tanto. E se "Just A Litlle Lovin'" é "um flerte casual", como diz o livro, "Hey Good Lookin'" já "chega chegando", arrastando o par pra pista de dança.

Apesar de tudo isso, o destaque pra mim - por motivos unicamente pessoais, que fique claro - fica por conta da belíssima "You Don't Know Me". Esta sem dúvida é uma das músicas que entraria no disco The Life Of Vivi's - Original Motion Picture Soundtrack, sabe? Tanto que é com ela que termino este post.





Faltam 484 dias.
Faltam 970 discos.

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